quinta-feira, julho 02, 2009


ENCONTROS PARTE I




Ela escolheu cuidadosamente duas garrafas de vinho para aquela noite. Não havia avisado que faria algo especial, pois queria surpreendê-lo. Estavam há algum tempo juntos - tempo suficiente para incluí-lo em seus planos.
Resolvida a questão do vinho, tratou de escolher as músicas que tocariam aquela noite. Queria que tudo fosse perfeito - talvez não perfeito, mas diferente. Sabia que era preciso ir além das coisas rotineiras como o bom sexo, a compatibilidade e a boa convivência para manter um relacionamento.
Nada havia sido planejado, pois ela não era o tipo de traçar esquemas e planos; era tudo improvisado. Sua impulsividade a tornava especialmente atraente.
O ambiente parecia perfeito: boas músicas escolhidas, um bom vinho, velas pela sala e um aroma amadeirado agradabilíssimo no ar. Faltava apenas saber o que vestir.
Não haviam casado justamente por não quererem algo convencional que se tornasse morno com o passar do tempo, e a decisão de não dividirem a mesma casa também era pela mesma razão. Apesar disso, viam-se quase todos os dias e ele havia dado a ela a chave de seu apartamento, de modo que ela poderia aparecer quando bem entendesse para dormir com ele ou apenas matar a saudade.
Não havia avisado que iria aquela noite e ela sabia que ele estaria trabalhando até tarde. Queria realmente surpreendê-lo.
Entrou no banho e percebeu que o shampoo estava no fim. Ele sempre deixava acontecer, e isso a irritava um pouco. Mas estava bem, feliz, ansiosa pela noite que terminaria no melhor sexo que jamais experimentara.
Secou os cabelos e dirigiu-se ao armário; buscou uma camisa social dele e vestiu, sem nada por baixo.
Sentou-se no sofá e deixou a música tomar a sala, bem baixinho, sorrindo e lembrando de coisas que haviam passado juntos. Como todo casal, tiveram momentos deliciosos e miseráveis. Mas no final tudo acabava com um beijo e a promessa de que não se magoariam novamente.
O celular tocou dentro da bolsa.

- Alô?
- Oi, meu amor. Hoje é aniversário de um dos rapazes. Estamos tomando uma cerveja. Não tenho hora pra voltar. Você vai lá em casa hoje?
- Ahn... não sei... talvez...
- Tudo bem. Se não quiser, não precisa me esperar. Te dou um beijo enquanto você estiver dormindo. Te amo, viu?
- Ahãn... tudo bem. Mas acho que então não vou lá, não. Amanhã nos falamos então. Divirta-se.

Guardou o celular com o coração apertado e mortalmente ferida. Não havia o que cobrar, pelo o que brigar, o que questionar. Tinham tudo e não tinham nada. Haviam feito um pacto de liberdade.
Recolheu as velas, desfez a mesa, guardou os cd's. Pôs novamente a camisa no armário e se vestiu.
Pegou as chaves e, antes de sair, olhou novamente a sala, com um sorriso amargurado no canto dos lábios.

- É... eu também te amo.

E partiu.






ENCONTROS PARTE II

Enquanto guardava o celular com o coração apertado e mortalmente ferida, ela jamais poderia imaginar que alguém a observava à distância. E ao assisti-la recolher as velas e desfazer a mesa, guardando os cd’s - eliminando qualquer pista sobre a sua decepção - por pouco ele não desistiu de tudo e foi até o apartamento pedir desculpas. Mas o tempo de culpa e cobrança, se houve algum, já se passara. Sabia que não lhe diria nada, guardaria em silêncio aquela falta e eles continuariam sem mágoas. Não era a primeira vez que ele fazia algo assim e com certeza tão pouco seria a última: o que a deixava com a única escolha de aceitar ou não o seu homem como ele era. Embora ela colecionasse um passado considerável, nunca havia encontrado um homem que a fizesse sentir tão feliz e amada e que ela amasse tanto quanto ele; seu coração não lhe deixava escolha. No entanto mesmo sendo menos experiente ele também possuía seus próprios truques e ela se lembraria disso naquela noite.
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Caminhando desgostosa, a noite fria arrepiava sua pele e a rua vazia parecia querer intencionalmente fazê-la sentir-se ainda mais abandonada. Os olhos marejaram e em silêncio ela lutava contra as lágrimas que ameaçavam borrar a maquiagem. Passos ao longe a trouxeram a realidade, um vulto grande se aproximava rápido em sua direção. Os sentimentos confusos se transformaram em medo e raiva por estar sozinha, quando deveria estar tendo a melhor noite de sua vida. O ponto de ônibus estava longe e não havia ninguém por perto.
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A figura crescia e se tornava mais intimidadora a cada passo, ela apressou-se pedindo a Deus que tivesse algum lugar aberto no qual pudesse se esconder. Ela entrou em um bar prestes a fechar pedindo ajuda. Não bastava o constrangimento de ser perseguida, a situação se tornou ainda pior quando depois de alguns minutos ninguém passou por aquele trecho deixando-a com a impressão de ter forçado uma desculpa para encontrar uma companhia para noite. Envergonhada e desacreditada da divina providência, ela rapidamente se desvencilhou do novo embaraço e voltou a seguir o seu caminho, quando uma quadra adiante o vulto reapareceu.
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Dessa vez ele estava muito mais perto, o maldito a estava esperando, uma blusa com touca escondia seu rosto. Pensou em correr, mas o desespero fez suas pernas fraquejarem e em um instante o homem a alcançou e empurrou para um estacionamento. Tudo aconteceu muito rápido e ela não teve chance de reagir
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Aquela voz! Ela conhecia aquela voz, era ele! Uma mistura de alívio, ódio, vergonha e tesão a invadiu e ela o abraçou desconcertada. Em seguida com os punhos fechados, quis atacá-lo. Ele, porém segurando seus braços a colocou contra a parede e a pôs em seu lugar.
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“_Eu sei que você queria".
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Rapidamente beijou-a forte .
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O cenário invertera-se, agora era ele quem estava no controle.

EM UMA MANHÃ


NAS MANHÃS...

E é assim que as coisas vêm tomando um caminho único. E levantamos com a cara amassada de manhã, percebendo que estamos vivos e que só estávamos desligados. È então neste segundo que o cérebro carrega as informações adormecidas – despertando-as do sono profundo. É então que lembramos: lembramos de todas as coisas que nos deixam felizes e tristes. Todas as preocupações, todos os fardos, todos os momentos belos, agradáveis. O dia anterior, o dia antes do anterior...
Queria que nesse momento tocasse automaticamente uma música. Justamente naquele momento em que se levanta e se senta na cama, ainda sonolento. Queria que fosse uma daquelas músicas belas de filme antigo. Então eu iria à janela, veria que a chuva estava caindo forte lá fora há algum tempo, encharcando a árvore frondosa que fica do outro lado da calçada. E então, respiraria fundo e sentiria os pulmões enchendo-se do ilusório cheiro de terra molhada que vem do asfalto.
Seria então que meus olhos se levariam para a cama, eu veria o corpo adormecido, sereno. Minhas expressões enfim des-enrijeciceriam e me deitaria novamente para voltar a dormir.

Em meio a Nada




EM MEIO A NADA...



"Quando não querem enxergar não adianta. Nem quando não querem ouvir"